quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Lavando a Alma


A água vem e a água molha,
O meu corpo bem de leve,
Fina e gélida como a neve,
Enquanto alguém de cima olha.

Aquela estranha sensação,
Do frio que sobe pela espinha,
E inicia assim a minha,
Tão sublime transformação.

A gota na pele arde,
Pois desgruda o que eu sei,
Que no íntimo eu mesmo guardei,
E agora se vai tarde.

Num caminho só de ida, eu me entrego ao seu calor, me entrego à sua luz, me entrego ao teu calor.
Vão se soltando de mim, todos os pedaços daquilo que eu mesmo criei, de dor, de tristeza, de amargura.
A água vai limpando todo o meu ser, despindo-me de minhas inúteis armaduras e me devolvendo a mim mesmo.
Como que numa descoberta de quem realmente sou, me surpreendo ao ver um ser, prostrado ao amor, livre para seguir sua natureza, sem ter de esconder sua essência.
E novamente sou um bebê, com as intenções mais puras e a encantadora beleza da infância, mas retendo a sabedoria, para saber o que fazer para acertar.
A chuva continua a cair, cada vez mais forte, e em cada gota, posso sentir a energia sendo absorvida pela epiderme, até que me torne, gradativamente, um farol, transbordando de luz para iluminar a noite escura.
Não consigo conter as energias dentro de mim, é muito forte, é belo e emocionante. Com os braços estendidos e a face ainda baixa, agradeço por essa divina experiência, enquanto lágrimas escorrem.
Abro os braços o máximo que posso, a cabeça para o alto, a chuva ainda mais forte. Mal posso abrir os olhos, mas sinto os raios de energia trespassarem minh’alma e o céu é só claridade, enquanto olho a imensidão e meu ser se expande.
Um feixe de luz começa a sair do meu corpo, cada vez mais largo, cada vez mais intenso, não sei se vou suportar.
Instantes se passam e, sem que eu perceba, me apoio com os braços no chão, retomo as forças e levanto, estou leve. Vejo a luz, indo pelo universo, sendo encaminhada ao trabalho de iluminar na escuridão.
O meu corpo, não sou mais um bebê, agora sou eu, mas ainda sou luz, agora sou eu.
Retomo meu caminho, a alma lavada, enquanto as últimas gotas caem e o arco-íris no horizonte, continuo andando.
É hora de voar mais alto, pois já lembrei quem sou e o que faço.

Thiago Vinicius de Carvalho

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